Crítica: 300 – A Ascensão de um Império (2014, de Noam Murro)





O primeiro ‘300’, lançado entre o final de 2006 e o início de 2007 foi um imenso sucesso inesperado. O filme foi inspirado na Graphic Novel do quadrinista Frank Miller (lançada no Brasil como ‘Os 300 de Esparta’) e por sua vez esta HQ foi inspirada na ‘Batalha das Termópilas’, uma batalha real entre espartanos e o exército de Xerxes em 480 a.C. Batalha esta retratada em um filme de 1962, também com o nome de ‘Os 300 de Esparta’ e fonte de inspiração para Miller. Devido ao fato do exército Persa ser infinitamente maior que o espartano, esta resistência além do normal tornou-se lenda, criando-se várias histórias em cima do corajoso exército de Esparta. É aí que entra a lenda dos ‘300’, embora em momento nenhum da história se comprovou quanto eram no poderoso e pequeno exército. Trazendo um pouco de mitologia, cenas muito fortes e de muito estilo, ‘300’ tornou-se um “cult instantâneo”. O diretor Zach Snyder (de ‘Sucker Punch’ e ‘Watchmen’) revelou então seu estilo de contar histórias: com muito slow motion (câmera lenta), cenas 3D, ótimo uso de efeitos especiais – às vezes remetendo à HQ – e ação acima da media, com uma violência gráfica bem forte. Com um orçamento de “apenas” 70 milhões de dólares (eu disse “apenas”, pois o filme tem um visual onde parece ter custado uns 200 milhões); o filme arrecadou justamente mais de 200 milhões de dólares. Com tamanho sucesso, ficava evidente que teríamos mais.

‘300 – A Ascensão de um Império’ chega como uma continuação que diverte, mas fica bem abaixo do esperado. Já começa com o fato de Zack Snyder ficar apenas na produção do filme. Sob a direção, o desconhecido Noam Murro. O cara tenta, mas não tem o mesmo “espírito espartano” de Snyder. E o roteiro superficial não ajuda. Temos aqui 3 grandes problemas que desbancam o filme. O primeiro é este diretor, que tenta simplesmente copiar Snyder, mostrando-se sem originalidade e coragem de inovar. Mas isto teria dado certo se houvesse um bom roteiro, o que infelizmente não acontece. O segundo problema é que o roteiro é bem superficial, não dando importância para os bons personagens que sim, estão presentes. Isto acaba distanciando o público também da hora da ação, já que não conhecemos tão bem nossos heróis e vilões. O terceiro defeito do longa é a falta de um herói mais grandioso. O ator Sullivan Stapleton (visto em pequenas participações, como no filme ‘Caça aos Gângsteres’) interpreta o general grego e herói Themistokles. O cara realmente se esforça e isso é louvável. Mas por ser um rosto desconhecido e por não ser grandioso como o Rei Leônidas, interpretado pelo imponente Gerard Butler no primeiro filme – fica esta sensação de que esta continuação merecia um herói mais forte. Em um outro filme Sullivan Stapleton se sairia muito melhor, já que ele consegue mandar bem. Mas por se tratar da continuação de ‘300’, o ator parece não empolgar.


Mas fora estes defeitos, o filme tem alguns méritos, justificando a bilheteria boa e parte da crítica (cerca de 45%) aprovar o filme. Apesar de apagado na grandiosidade do filme como já comentado, Sullivan Stapleton ao menos atua de forma que não estraga o filme. Um acerto é o fato deste filme se passar paralelamente ao primeiro, ou seja: enquanto os 300 espartanos sob o comando de Leônidas enfrentava alguns generais de Xerxes; Themistokles e seu exército grego enfrenta outros generais em outra região. Legal também é que os gregos são mais humildes e tem um plano melhor de guerra, fugindo daquele estereótipo suicida “ostentando e morrendo pela glória”. Para ligar os pontos, o filme rapidamente mostra Leônidas, além de trazer de volta a esposa dele vivida pela ótima atriz Lena Headey (da série ‘Game of Thrones’). Aqui ela é uma coadjuvante de luxo, mostrando o motivo de ser uma das mais poderosas estrelas de produções épicas, seja no cinema ou na TV. Outros rostos vistos no primeiro filme estão de volta, como o corcunda traidor Efialtes. Na pele do Rei-deus Xerxes, novamente temos o brasileiro Rodrigo Santoro. Apesar de estar quase irreconhecível e ser apresentado de modo endeusadamente caricato, Santoro não compromete e entrega um aceitável vilão. Porém aqui ele aparece menos em tela e aparenta ser mais frágil, mostrando que sua glória estava no seu exército e não na sua liderança. Com uma voz forte, em tamanho maior através de efeitos especiais e mitologicamente representado, Xerxes parece mais um desequilibrado orgulhoso e de corpo pintado de dourado do que um Rei ou deus.

E ainda falando do elenco, não tem como deixar de destacar ela, o real motivo do filme valer a conferida. A bela Eva Green entrega uma presença e atuação superior ao próprio filme. A moça que já foi vista em filmes como ‘007 – Cassino Royale’ e ‘A Bússola de Ouro’ é dona de uma excêntrica beleza, com um olhar ameaçador o tempo todo. Me arriscaria a dizer que ela é a protagonista do filme, ou ao menos deveria ser. Após sofrer abusos e horrores quando jovem, Artemisia é criada por Dario (pai de Xerxes). Após a morte de Dario pelas mãos de Themistokles, Xerxes assume seu posto e Artemisia vira sua principal guerreira e general. Em dado momento, mesmo que muito breve, nota-se que ela se torna quase que como uma mãe de Xerxes. Um breve momento de emoção em um filme forte. Eva Green parece ser a mais dedicada ao papel, mostrando o motivo dela receber a atenção. Ela não é apenas a grande vilã do filme, como também quase se torna a anti-herói. Em certo momento Artemisia passa a admirar Themistokles, possivelmente por ele ser um real desafio. Ela então se sente atraída por ele e vê o potencial dele lutar ao lado dela. É aí que há uma das melhores sacadas do filme: a guerra dos sexos. Seduzindo Themistokles mesmo ele não passando para o lado dela, ocorre uma cena onde o sexo na verdade é uma luta, bem violenta. Portanto, eu diria que a base e o pilar central do filme é Eva Green, sustentando a obra com o seu forte olhar, sensualidade bruta e uma frieza cruel. Artemisia é má e sanguinária, tendo vários momentos detalhadamente fortes.

A trilha sonora nervosa do primeiro filme está de volta neste segundo, embora se faça menos presente. Os efeitos especiais e a fotografia forte são pontos à parte. Tudo é feito de modo gráfico, onde apesar de você saber que é CGI, é chamativo e remete à algo. Os céus, as planícies, o mar e todo o cenário berra os contrastes entre tons escuros (preto, azul) com uma iluminação alaranjada e o sangue vermelho. Em alguns momentos parece que estamos folhando uma chamativa HQ. Tudo feito para exaltar a guerra, as mortes e o tom sombrio do filme. O visual do longa funciona como um estado de espírito. As sangrentas batalhas, simplesmente lotadas de câmera lenta e sangue e membros sendo jogados contra a câmera garantem um filme 3D para maiores de idade. Este segundo filme pode ser inferior no geral, mas é mais visceral que o primeiro. As lutas muito bem coreografadas irão agradar a que curte uma ação na base da fantasia e onde se esquece da física. Tudo é muito grandioso, o gore jorra na câmera e a adrenalina sobe. Se você gosta de épicos com mortes exageradas, nisso este novo ‘300’ não te priva.

Finalizando, diria que ‘300 – A Ascensão de um Império’ é um daqueles filmes que poderia ter sido nota 10, mas não foi. A história, os cenários e as lutas são grandiosos, mas faltou direção e um roteiro à altura e igualmente grandioso. O filme acaba valendo pelo excelente e chamativo visual, lutas e cenas extremamente radicais e uma vilã assustadoramente cruel. Eva Green leva o filme nas costas e acaba valendo o tempo. Pelo final incompleto e pelo sucesso deste, possivelmente em breve ouviremos falar da terceira parte. Esperamos então que esta parte seja a última e genuinamente grandiosa, honrando assim a lendária saga dos 300 de Esparta – e muito além disso – honrando este cativante, mitológico e glorioso império grego!






Direção: Noam Murro

Elenco: Lena Headey, Eva Green, Rodrigo Santoro, Sullivan Stapleton, David Wenham, Jack O’Connell, Scott Burn, Nancy McCrumb, Caitlin Carmichael, Hans Matheson, Callan Mulvey, Andrew Tiernan, Mark Killeen, Andrew Pleavin.Sinopse: baseado em Xerxes, quadrinhos de Frank Miller, e narrado no estilo visual de tirar o fôlego do sucesso ‘300’, o novo capítulo da épica saga leva a ação a um inédito campo de batalha – o mar – à medida que o general grego Themistokles (Sullivan Stapleton) tenta unir a Grécia ao liderar o grupo que mudará o curso da guerra. ‘300: A Ascensão de um Império’ coloca Themistokles contra as enormes forças Persas, lideradas por Xerxes (Rodrigo Santoro), um mortal que virou deus, e por Artemisia (Eva Green), uma vingativa comandante da marinha persa.

                                                Trailer:













































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