Stranger Things – Nova série da Netflix traz a nostalgia dos anos 80 e a magia e os mistérios de ser criança!



Alguns meses atrás, quando o primeiro trailer desta nova série original da Netflix estourou, criou-se certa expectativa em torno dela. Principalmente dos expectadores mais saudosistas, devido ao teor nostálgico e clima oitentista que o trailer propôs. Bem, no dia 15 de Julho ‘Stranger Things’ chegou ao serviço streaming causando um alvoroço, superando as expectativas e caindo no gosto de todos, se tornando a série mais bem sucedida da história da Netflix e uma das mais comentadas, dentre todas séries já lançadas. Este nascimento de um clássico moderno e tremendo sucesso se deve a uma verdade: ‘Stranger Things’ consegue trabalhar muito bem o drama, o mistério, o suspense e o terror; mas sem perder o clima nostálgico, familiar e inocente. Sagazmente, a série anda nessas duas “vias”, se tornando a grande surpresa do ano para os sériemaníacos e – quem sabe – os cinéfilos. 



É 1983. Tudo começa com alguns estranhos fatos, como o título original propõe. Algo escapa do que parece um laboratório, matando um cientista. Uma estranha criança também escapa, deixando o lugar em alerta de segurança. Enquanto isso, um grupo de 4 amigos que tem uma espécie de clubinho está jogando e brincando. Na volta para casa, um deles é atacado por algo e simplesmente desaparece, deixando a mãe e o irmão mais velho desesperados. A partir daí desenrola-se a trama. É interessante como o episódio piloto preocupa-se em apresentar estes fatos de maneira bem direta, para daí partir o desenvolvimento das personagens. Em vez de apresentar as características das personagens e então fechar o capítulo com os primeiros mistérios, os roteiristas arriscam ir direto ao ponto, nos trazendo a assustadora situação, para então se aprofundar na trama pessoal.



Os criadores, produtores, roteiristas e diretores estão de parabéns por diversos motivos. Primeiramente porque optaram em apresentar apenas 8 episódios nessa primeira temporada, o que faz com que a série nunca se torne maçante, a história não se perde, sempre há algo novo para surgir e um acontecimento para avançar. Dentre esta equipe genial de criadores, encontra-se Shawn Levy, que no cinema trouxe obras boas mas simples como ‘Gigantes de Aço’ e a trilogia ‘Uma Noite no Museu’. São filmes divertidos, mas que não trazem nada tão novo assim. Mas aqui fica a surpresa dele estar envolvido em algo mais original. Mas os outros grandes cérebros são os irmão novatos Matt e Ross Duffer. Eles que comandam a maioria dos episódios, se tornando uma revelação. São diretores e roteiristas para se ficar de olho. Mesmo que para uma série, em momento nenhum a direção deles cai no amadorismo. Pelo contrário, há ângulos de câmera, capricho estético e extração artística maior do que a maioria das séries de hoje, que apesar de ótimas; em alguns momentos apresentam limitações típicas do formato.

As atuações do esforçado elenco é outro prato cheio. A já veterana Winona Ryder entrega uma mãe verdadeiramente desesperada e em busca de seu filho desaparecido. Numa mistura de amor, fé e loucura, ela adentra na fantasia de maneira magistral. Outra grande surpresa, as cenas mais dramáticas exigem dela devoção, que é entregue com competência, em cenas que às vezes ela atua e passa uma mensagem apenas com o abalado olhar. Vinda dos anos 80 em filmes como ‘Os Fantasmas se Divertem’ (numa época em que era o grande amor da vida de Johnny Deep), ela andava sumida, mas sua escolha foi proposital, uma vez que cada detalhe da série faz referência à década oitentista. David Harbour é outra surpresa, entregando um xerife cheio de camadas. Tem o seu trauma familiar, é alcoólatra, tem atitudes às vezes contraditórias. Mas tem coração, se compadece do sofrimento da mãe e entrega momentos surpreendentes quando as situações exigem dele lutar e virar um herói. Ambiguidade define seu personagem. Matthew Modine (outra cria dos anos 80, vindo de filmes de guerra como ‘Nascido para Matar’), apresenta um vilão de cabelo platinado bastante peculiar, uma vez que sua representação é típica dos vilões de filmes de fantasia antigos, com suas expressões um tanto “quadradas” e ações frias.

Mas o grande recheio do bolo – e não poderia ser diferente – é a atuação das crianças. Os atores mirins estão de parabéns e todos são de grande potencial. Finn Wolfhard é Mike, o protagonista da trama, melhor amigo do menino desaparecido. Mike parece frágil, mas tem carisma, é corajoso e tem boas cenas dramáticas. Gaten Matarazzo é Dustin, que poderia ser apenas o gordinho engraçado da turma, mas o roteiro sabiamente sabe usá-lo mais do que isso, entregando momentos em que ele é fundamental para a turma criar coragem de enfrentar a difícil situação, quase que uma consciência do grupo. Caleb McLaughlin é Lucas, o mais esquentadinho do grupo, mas de igual importância na resolução dos acontecimentos. Noah Schnapp é Will, o menino desaparecido, que apesar de aparecer menos, todos grandes mistérios giram ao seu redor. Estes quatro meninos são espetaculares nas suas camadas, entregando momentos cômicos e trágicos, mas sempre com a inocência infantil. Porém o melhor ainda está por vir. Millie Bobby Brown é a misteriosa menina chamada Onze. Disparada a melhor atuação da série e sem exageros, uma das melhores atuações de todas as séries modernas. A garota é uma força da natureza, com uma personagem extremamente forte e que acaba roubando a atenção toda para si. Seu olhar, sua desenvoltura, tudo apresenta força cênica. Quando as crianças todas estão em cena, temos momentos impressionantes de diversão, fofura e uma boa dose de emoção. É incrível ver a sintonia do elenco mirim, sendo o maior acerto da produção.



Talvez a grande “bola fora” do roteiro da série seja o triângulo amoroso adolescente que se forma, um tanto chato e desnecessário, mas não deixa de ser uma representatividade para os adolescentes daquela época. A história apresenta um ritmo de descoberta crescente, trazendo fantasia, mistério e terror em boas quantidades, sempre mesclando muito bem e sem exageros. Os efeitos especiais estão bons. Podem sim melhorar, mas para a primeira temporada estão bons. Com o sucesso desta, a segunda parte deverá vir visualmente mais chamativa, não que seja necessário. Usar estes efeitos quase sempre à noite ou em ambientes escuros serve tanto para esconder as limitações do orçamento como para também ajudar da criação da atmosfera de tensão. A trilha sonora é outro forte acerto, toda oitentista e trazendo faixas como ‘Should i Stay or Should i Go’ do The Clash, ‘Raise a Little Hell’ do Trooper, a lendária ‘Heroes’ do David Bowie, dentre tantas outras. Além da trilha original composta para a série, que tem sintetizadores eletrônicos bem similares aos das composições sonoras dos filmes oitentistas.



E para finalizar meu texto, deixei as referências por último, para bater aquela nostalgia. Desde o princípio, a intenção de ‘Stranger Things’ era homenagear os clássicos de terror e ficção com crianças dos anos 80. E para isso, pensou-se em cada detalhe; para tudo apontar nesta direção. Não apenas nos diálogos, mas nos nomes dos lugares, dos personagens, a direção de arte, os objetos das casas, as roupas, camisetas, pôsteres, tudo, simplesmente tudo ali faz menção honrosa a algum clássico de nossa infância. Passando pelas HQ’s dos ‘X-Men’, pelas já citadas canções de artistas lendários, temos referências à grandes diretores e escritores. Stephen King, Steven Spielberg, George Lucas, Joe Dante, Tobe Hooper, Wes Craven, John Carpenter, dentre outros. Estes grandes nomes e mestres estão ali bem representados. Alguns exemplos: o nome da adolescente é Nancy, mesmo nome da protagonista da franquia ‘A Hora do Pesadelo’ de Wes Craven. Temos a reconstrução de cenas de ‘E.T.’, ‘Conta Comigo’, ‘O Iluminado’, ‘Poltergeist’, ‘O Enigma do Outro Mundo’, ‘Carrie: A Estranha’, ‘Janela Indiscreta’ (ou ‘Dublê de Corpo’), dentre tantos outros. Há pôsteres, camisetas, livros e menções a ‘Senhor dos Anéis’, ‘Star Wars’, ‘Star Trek’, ‘Cujo’, ‘Evil Dead’ e muito mais. Quando Onze usa peruca, representa ‘E.T.’ na cena em que o alienígena se disfarça. Em um flashback a mãe mostra ao filho ingressos para ‘Poltergeist’, lançado em 1982; assim se deduz que aquilo ocorreu no ano anterior. E por aí vai, é difícil escrever tudo, até porquê quero deixar para você literalmente “caçar” estas referências, caso for conhecedor destes clássicos. 


‘Stranger Things’ traz inúmeras qualidades, se tornando uma série marcante, daquelas que será obrigatório acompanhar a partir de agora. Ela resgata este senso nostálgico e traz de volta às nossas mentes algo que se perdeu. O encanto, a magia, os mistérios e a graça de ser criança. Aquela coisa do clubinho, walkie talkie, HQ’s e livros, disco de vinil, o bom e velho rock e aqueles filmes de terror ou ficções clássicas, na qual você tinha medo mas alugava em VHS. Traz aquela coisa do pacto de amigos e confiança. De brincar, andar de bicicleta e ter todo um contexto mágico na mente. Estes fatores infelizmente se perderam na entrada dos anos 2000 para cá. Hoje vivemos numa geração onde as crianças já saem do útero com tablet na mão e tirando selfie. É uma geração chamada Y, que infelizmente perderá alguns prazeres inocentes de ser criança. Se na vida real este senso lúdico se perdeu, na ficção temos obras, verdadeiros presentes como este ‘Stranger Things’, que resgata costumes saudosos e mostra como foi bom pertencer aquelas gerações.


NOTA: 9,5










Direção: Shawn Levy, Matt Duffer e Ross Duffer.


Elenco: Winona Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard, Millie Bobby Brown, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Cara Buono, Matthew Modine.


Sinopse: situada no interior de Indiana, na década de 1980, a história inicia com o desaparecimento de Will, um menino de 12 anos. Enquanto a família e os amigos tentam entender o que aconteceu, o chefe de polícia Hooper inicia uma investigação e se depara com experiências secretas conduzidas pelo governo numa base militar no subúrbio da cidade. Ao mesmo tempo, os amigos de Will – Mike, Dustin e Lucas – tentam localizá-lo por conta própria, mas acabam encontrando Eleven, uma menina misteriosa, com estranhos poderes.



Trailer legendado:


Guia de referências:






Trilha sonora:








Mais imagens da série:












  

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